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1 - É indispensável haver trilha sonora na hora do amor.
Como o sexo nos filmes é tratado sob a ótica épica, ele acontece sempre sob sons de violino nos enlatados românticos, ou sob temas triunfais, nos filmes de ação. Isto remete aos ingredientes básicos de um filme sucesso de bilheteria: sexo, ação e violência, não necessariamente nesta ordem, mas imperiosamente acompanhados de música.
2 - As mulheres atingem o orgasmo invariavelmente e o casal sempre chega "lá" juntos.
Enquanto na vida real, a maioria das mulheres jamais chegará perto disso em toda a sua vida, as personagens das tramas experimentam o esgazear de olhos desde o primeiro roçar de corpos.
3 - Os parceiros amorosos dos filmes tem corpos perfeitos.
Você não vê imperfeições anatômicas nos filmes de Hollywood. Isto é coisa para os fracos, mesmo porque no making-off das cenas calientes eles usam dublês de corpo...
4 - Todas as mulheres já nascem sabendo fazer strip tease e pole dance.
Esqueça os problemas de auto-aceitação que TODAS as mulheres normais enfrentam, além das personagens de filmes se aceitarem tais como são, fazem strip já no 1º encontro, expondo despudoradamente seus corpos à plena luz. Porém, cabe a ressalva de que atores e atrizes de Hollywood são padecedores dos males de qualquer pessoa comum e mortal...
5 - As mulheres sempre se cobrem depois do sexo.
Paradoxalmente à desinibição do "antes", no "após-ato" as personagens se enchem de pudores e cobrem puritanamente os seios quando se sentam na cama. O engraçado é que não se observa tal comportamento na vida real... se por um lado elas não fazem strip, por outro, não são tão envergonhadas.
6 - Dificilmente os personagens tomam banho depois da relação sexual e não há possibilidade deles demonstrarem intuitos que remetam à necessidades fisiológicas.
O primeiro fato é explicável por conta do frio no hemisfério norte, mas o segundo tem a ver com o desprezo pelo realismo.
7 - Os apetites sexuais são insaciáveis e a performance dos homens é descomunal.
Lê-se nos fóruns da Internet esposas se queixando de que seus maridos tentam repetir consigo aquilo que veem nas películas pornográficas. Ora, qualquer um que tenha a oportunidade de ver o making-off de um filme do segmento adulto, constata que as cenas não passam de poucos segundos reais, ou porque o ator “deixa cair a peteca”, ou porque os atores erram a “fala”(vídeo abaixo), ou porque o diretor grita “corta”, ou por câimbra da atriz, ou porque alguém da equipe ri ou tosse, etc. Enfim, as relações sexuais intermináveis mostradas nos filmes, nada mais são do que o resultado da seleção das melhores partes minúsculas, que são editadas e postas em sequência. Quando os espectadores apreciam o resultado final, frustram-se com seus próprios tamanhos e desempenhos.
8 - Todas as mulheres usam roupas esvoaçantes.
Nunca o galã enfrenta zíperes recalcitrantes, botões rebeldes e presilhas de sutiãs inabaláveis no intuito de não ceder (um parente meu renunciou à "sua primeira vez" depois que deu de cara contra a muralha de um sutiã inexpugnável). Note como as roupas e as lingeries das atrizes são jogadas ao ar, como se fossem etéreas, ou confeccionadas em seda javanesa.
9 - O amor é sempre à primeira vista.
Exceto nos Sitcoms cômicos, o amor é algo que se consuma desde a primeira olhada.
10 - Os homens jamais falham na hora “H” e as mulheres tem uma libido insaciável.
Não existem galãs com este tipo de mácula na sua ficha corrida, exceto nos making-offs dos pornôs (o reino dos pintos murchos). Já as mulheres, invariavelmente encarnam o tipo sempre-afim-preparada-para-o-que-der-e-vier. Quanta diferença para as mulheres de carne e osso, com suas regras, dores de cabeça, estresse, inseguranças... Enquanto os homens (de carne já não tão rígida assim) começam a colecionar infortúnios a partir dos 40 anos!
11 - Sexo no primeiro encontro é a regra de ouro.
A onda da AIDS e do sexo seguro não aportou em Hollywood, tanto que frequentemente parceiros que mal se conhecem começam a transar ainda no carro (e milagrosamente nunca são assaltados). E as pessoas ainda se surpreendem porque os Aiatolás proíbem filmes ocidentais no Irá!
12 - Os beijos são apaixonados, apimentados, altamente movimentados e muitas vezes girantes.
Não repita em casa os beijos técnicos que você vê nos filmes, pois corre o risco de trincar os dentes e deslocar os maxilares, pois apesar da beleza cenográfica, são totalmente inviáveis na prática de dentes contra dentes.
13 - Nenhum homem faz o gesto característico de colocar a camisinha.
Sexo seguro nunca entra em moda no reino da fantasia, talvez porque não existam as DST (doenças sexualmente transmissíveis) no mundo idealizado dos roteiristas, onde coexistem saúde e promiscuidade em perfeita harmonia.
14 - Os parceiros nunca tem o menor conhecimento sobre métodos contraceptivos.
1º: as pessoas nunca ficam grávidas depois de praticarem sexo inseguro; 2º: não há nenhuma relação de nexo entre transa e gravidez; 3º: nos filmes dedicados ao tema gravidez, tais como em “Ligeiramente Grávidos”, “Juno”, “Secret Life of the American Teenager", a moça fica grávida sem saber direito porque. Neste caso, o cinema imita a vida real pois, mesmo sob intenso bombardeio de informações sobre sexo, muitos adolescentes ainda hoje acreditam que podem engravidar com um simples beijo na boca...
15 - Tamanho não é documento, já que os homens nunca aparecem nos filmes portando um.
Exceto nos filmes pornográficos, onde eles aparecem esgrimando “equipamentos” descomunais de 30 cm, nos demais filmes, os pênis dos galãs não são mostrados, talvez para não espicaçar a inveja dos espectadores, já que quando aparecem, sempre são itens anatômicos ligeiramente superdimensionados, devidamente cedidos por dublês de detalhes de corpo. O cinema definitivamente não é terra onde os pintos pequenos possam grassar, exceto no “Império dos Sentidos”.
16 - Não há, definitivamente, o menor traço de doenças venéreas nos filmes.
Com exceção dos Sitcoms médicos, as doenças sexualmente transmissíveis (DST) passam longe dos relacionamentos sexuais, explicitamente promíscuos, retratados nas ficções hollywoodianas.
Conclusão: Graças à colonização cultural exercida pelos padrões irreais impostos pelo cinema americano, todos terminamos nos sentindo inferiorizados, quando devido à comparação, não encontramos equivalência na nossa aparência e nem no nosso vigor físico talentos que contraponham os grandes personagens povoadores do nosso imaginário. Obviamente, se os estúdios de Hollywood resolvessem adotar o realismo e com ele aspectos mais educativos, certamente o grande fascínio exercido pelos produtos da sua indústria cairia por terra. Assim, entre o saneamento dos povos e o dinheiro, a opção recairá sempre sobre o vil metal, deixando que os assuntos de saúde pública continuem nas mãos de governantes impotentes.